Os líderes dos países do G8, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia, se reúnem a partir desta quarta-feira em Áquila, na Itália, para seu encontro anual de cúpula em meio a uma crise de identidades e questionamentos sobre sua relevância para tratar dos grandes temas internacionais.
No último ano, com a crise econômica mundial que vem afetando de maneira mais intensa os países desenvolvidos, o G8 (que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) perdeu espaço para o G20, grupo que tem a participação das 20 maiores economias e inclui diversos países em desenvolvimento.
Para muitos, o G8 vem perdendo relevância porque, hoje, não seria mais possível discutir grandes temas como a economia mundial, a questão do aquecimento global, o combate à pobreza ou o comércio internacional, sem a participação dos grandes países em desenvolvimento, como Brasil, China, Índia, México e África do Sul.
Esse grupo de cinco países emergentes, conhecido como G5, já vem participando como convidado das reuniões de cúpula anuais do G8 desde 2005, mas fica à parte da maior parte das discussões. A cada ano, aumenta a pressão para que eles sejam incluídos de vez no grupo e ganhem voz nas discussões.
Nos últimos dias, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou diversas vezes que continuará participando como convidado das reuniões do G8, mas que considera o G20 um fórum mais adequado para as discussões dos grandes temas mundiais.
"G8 morreu" Há duas semanas, o chanceler Celso Amorim havia afirmado que "o G8 morreu" e que nenhuma discussão internacional importante poderá acontecer sem que se leve em conta a posição dos países em desenvolvimento.
Os questionamentos sobre a relevância do G8 tem partido até mesmo de dentro do grupo.
"Os problemas que estamos enfrentando não podem mais ser resolvidos pelos países industrializados sozinhos", afirmou na semana passada a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel.
No último fim de semana, a ministra da Economia da França, Christine Lagarde, afirmou que "o G8 precisa necessariamente ser modificado e ampliado para se adaptar à nova realidade" e que o G20 se tornou uma instituição mais relevante.
A Itália, anfitriã da cúpula deste ano, concorda em parte com a avaliação. Neste ano, pela primeira vez, os países do G5 se sentarão à mesa com os líderes do G8 em dois dos três dias da cúpula.
Nos encontros anteriores, a participação dos países emergentes ficava restrita ao último dia, quando muitas das discussões importantes já haviam ocorrido e depois de muitas das resoluções do grupo já terem sido aprovadas e divulgadas.
Grupo seleto Em entrevista por e-mail à BBC Brasil, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, disse que "a Itália está trabalhando intensamente para dar substância à ideia de uma nova arquitetura para a governança internacional que leve em consideração as mudanças ocorridas no cenário global e sobretudo ao novo papel representado pelas economias emergentes".
Frattini afirmou, porém, que o formato das discussões internacionais deve ser determinado pelas questões em discussão e que, por isso, "ainda não há um consenso sobre o formato futuro e a composição de um G8 reformado".
Segundo ele, o G8 "mantém sua relevância como um fórum que compartilha valores comuns e uma visão comum para enfrentar as ameaças do século 21" e que "apesar de um formato maior e mais representativo refletir a nova dinâmica de poder e os desafios de um mundo transnacional, ainda há um papel para um grupo menor de países com posições comuns".
"O maior risco dos fóruns ampliados [como o G20] está na falta de uma possibilidade real de diálogo, por causa da combinação de um grande número de países representados, o curto tempo normalmente disponível para os encontros e a considerável diversidade de posições que normalmente aparecem quando questões sensíveis são debatidas, impedindo na prática que decisões concretas sejam tomadas".
Além do argumento de que a manutenção de um grupo pequeno de países é necessária para facilitar o diálogo e a obtenção de consensos, alguns analistas ainda veem a própria essência do G8 como entrave à inclusão do G5 no grupo.
Segundo John Kirton, professor da Universidade de Toronto e diretor do grupo acadêmico de pesquisas G8 Research Group, a principal missão do G8, desde sua fundação, é "a defesa da democracia", o que significaria um empecilho à entrada da China no grupo.
"Alguns membros do G5, como a Índia ou o Brasil, podem até já estar prontos para se juntarem ao G8, mas enquanto essa entrada estiver ligada à entrada da China, isso não ocorrerá", disse ele.
Kirton observa que o G5 "não existe como entidade própria", só como uma parte do G8.
Segundo ele, a importância dos países emergentes já foi levada em consideração pelo G8, primeiro com os convites para que os líderes do G5 participassem de suas cúpulas, a partir de 2005, e com o aumento dessa participação neste ano.
"O G8 está vivo e vai muito bem", afirma Kirton.